Denis Villenueve é um cineasta incrível, uma das coisas mais
belas em sua direção é que ele consegue fugir de quase todos os clichês do gênero,
em cada cena do filme, grande ou pequena, em cada sequência Villenueve mostra
que tem domínio do que está fazendo, ele nunca está perdido. Mas a coisa mais incrível
nisto tudo é que Villenueve consegue ser autêntico, original, em nenhum momento
parece que “Sicario” é dirigido por qualquer outro diretor ou que Villenueve está
tentando imitar alguém, simplesmente é ele em todos os momentos. Ele cria um Thriller
policial autentico, em “Sicario” não existe aquele negócio de “esta cena foi
muito tensa, vamos fazer uma aqui mais "light" para o público relaxar um pouco, uma mais cômica”,
de forma alguma, o filme é tenso do começo ao fim e a cada minuto que se segue você
fica ainda mais tenso.
Outra coisa genial de Villenueve é que ele sabe criar
desespero e tensão no público por muitas vezes dispensar a “antecipação”, por
exemplo: imaginemos que um personagem vai levar um tiro, ele não “antecipa” a
cena com alguém suspeitando de algo errado, ficando inquieto de um lado para
outro e que de repente diz: “Abaixe-se! ” e ai alguém é baleado, não, com
Villenueve é assim: Dois personagens conversando tomando café de forma descontraída
e de repente uma bala atravessa a cabeça de alguém, então todo mundo se joga no
chão de forma desesperada enquanto os vidros das janelas da cozinha se espedaçam
em migalhas por balas de metralhadoras que você não faz a menor ideia da onde estão
vindo, então Kate (Emily Blunt) e os outros policiais tentam localizar os
atiradores e revidar, é dessa fora que funciona com Villenueve, e quando ele
usa a “antecipação” é pra criar tensão, medo, ansiedade, seus nervos começam a
se contorcer, sua testa a suar, ele realmente consegue extrair esta reação do
público.
Outra coisa boa de Villenueve é que ele não banalizar a violência,
talvez você esteja se perguntando: “Como assim, pelo o que eu vi até agora
parece ser um filme super forte” e de fato é um Thriller para quem tem nervos
de aço, mas não se preocupe, Villenueve não vai traumatizar você ou faze-lo
vomitar na sala de cinema, ele mostra o que tem que mostrar e quando tem que
mostrar, acima de tudo ele nunca passa do limite, ele sabe até onde ele pode ir,
por exemplo: quando há uma cena de tortura e você sabe que a coisa vai ficar
feia, simplesmente antes de a tortura começar de verdade a porta da sala de
interrogatório é fechada e você não ver mais nada. Apenas escuta alguns gritos
e vamos para próxima cena, você sabe o que aconteceu lá dentro, está até mesmo enojado,
mas Villenueve não te mostrou nada por que ele sabe que não existe cena mais
cruel e desumana do que aquela que imaginamos dentro da nossa cabeça, quando
uma criança é morta ele não mostra os tiros perfurando o corpo dela, a câmera fica
sobre o arma disparando, quando há corpos mutilados ele não faz “closers” sobre
eles, apenas um relance de longe como no “cartão de boas-vindas a Juárez” é
suficiente para você saber onde está se metendo, e quando ele mostra algo mais
forte como na cena inicial, aquilo tem um propósito, fica evidente na reação
dos policiais, seu olhar de nojo, repulsa de até aonde vai a crueldade humana,
fazendo até que um policial saía de dentro da casa para pegar ar fresco por que
lá dentro ele sem dúvida iria vomitar, então você sente o que os personagens
sentem, nada é excessivo ou gratuito, Villenueve usa a imaginação do público,
isso fica evidente quando Josh Brolin diz: “Eles jogaram a menina um tanque de
ácido”, Villenueve não te mostra isso, mas você está horrorizado por que sua
mente consegui visualizar isso.
Mas um cineasta não faz um filme sozinho não é
verdade? O elenco está ótimo, enquanto Josh Brolin adora uma carnificina, Emily
Blunt e Benicio Del Toro são os dois lados da mesma moeda, Blunt segue os
procedimentos, é uma amante da lei, quer fazer justiça e isso fica evidente no
modo em como tenta descobrir a verdade por conta própria, já Del Toro é um lobo
solitário, ele não rir, não chora, não grita, não se intimida, ele permanece com
o mesmo olhar solitário do começo ao fim, ele vai fazer aquilo que lhe mandam,
não importe o quanto aquilo custe.
A montagem de Joe Walker é fora de sério,
ele sabe ritmar um filme e como manter a tensão mesmo em cenas longas, provou
isso em “12 Anos de Escravidão”. Mas eu tiro mesmo o meu chapéu para Sir Roger
Deakins, no mínimo a melhor fotografia de sua carreira pelo menos neste século,
esse cara é um monstro no que faz. Minha única crítica vai para o estreante Taylor
Sheridan que roteiriza o filme, o personagem da Emily Blunt embora tenha sido
magistralmente interpretado por ela não foge do estereótipo de personagem deste
gênero, ela é uma mulher que basicamente incorpora um homem, durona em todos os
sentidos, ela não faz compras, não liga para beleza, não se preocupa tanto com
sua própria higiene pessoal, não faz sexo, é basicamente alguém viciada em seu
trabalho, como em quase todos os filmes policiais em que as mulheres são
protagonistas, entretanto isto não diminui a qualidade do filme em nada.
Por fim devo dizer que Este filme é Simplesmente o melhor
suspense policial dos últimos anos!
Possíveis indicações ao Oscar 2016:
Melhor Filme
Melhor Direção: Denis Villenueve
Melhor Atriz: Emily Blunt
Melhor Ator Coadjuvante: Benicio Del Toro
Melhor Montagem: Joe Walker
Melhor Fotografia: Roger Deakins
Melhor Trilha Sonora: Jóhann Jóhannsson
Melhor Mixagem de Som
Melhor Edição de Som